terça-feira, 7 de maio de 2019

José Maria

Veja bem, que o ano começou ontem e já estamos em maio.
Que anteontem mesmo estávamos correndo descalços pelas ruas, descompromissadamente, e agora estamos com senhas nas mãos esperando a nossa vez. Há três dias nem no mundo estávamos. Há quatro, nem o universo existia.
Há cinco, ninguém pôde ir tão longe.
E ainda assim estamos atrasados.
O relógio mente. As horas estão sempre erradas.

segunda-feira, 30 de março de 2015

aniversário

uma vela é apagada -


o vento assoprou.


o tempo faz anos,


comemora aos poucos.


sempre passo


para cumprimenta-lo.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

agora não devia
ser hora nenhuma
tudo é saudade
o que foi agora é o não mais sendo
conflito temporal
raios e trovoes

luz e som - espaço e tempo
atrasa mas chega
sempre atrasa mais chega
só não atrasa a coisa em si

passado presente
presente futuro
o ontem busca repetir-se no amanha
hoje não
conflito, temporal
chove muito
raios e trovões
me abrigo e espero

passa, vai passando, passou
o sol brilha sobre nós dois
deve ser hora
sim, é hora.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Maria Ignês

As janelas, de fora para dentro, pintavam-na com o sorriso aberto ao me ver -
um sorriso envelhecido, flácido, em seu rosto pintado com manchas brancas
(Ah! aquela alegria de me ver, tão rígida, antiga e presente).
De dentro para fora pintavam-me
com seus olhos de 81 anos, ou toneladas.
A idade pesa,
O coração enfraquece.
A idade pesa no coração enfraquecido.
Silêncio!
Lágrimas.
O espaço a mais na mesa em que ela costumava estar...


As janelas já não pintam nada que me interesse.

Besteira Posterior

Tudo bem que chorei ao nascer,
Mas qualquer besteira posterior me fez rir.
Qualquer besteira posterior me fez.
Uma cabeça que saia por de trás das próprias mãos,
Um jogar-me para o ar e resgatar-me ileso
Ou um assopro no umbigo.

Tudo bem que cresci e chorei outra vez,
Mas qualquer besteira posterior continuou me fazendo rir.
Qualquer besteira posterior continuou me fazendo.
Uma cabeça que saia por de trás das próprias mãos,
Um jogar-me para o ar e resgatar-me ileso
Ou um assopro no umbigo.

Tudo bem que fiquei velho e ri,
Era enfim a besteira posterior propriamente dita
Sei lá quantas vezes eu cresci, chorei
E acabei rindo de qualquer besteira posterior
Que também me fazia.
Eu não parei para contar.
Eu não parei.

Enfim feito, envelheci e ri do que eu era.
Ri até que parei.
Eu parei!
Eu!
A besteira seguiu, posterior, e foi por ela que choraram.

Fotografia

mudo de foto, de fato -
pois que mudam os fatos com as fotos;
como quem possui o controle remoto
e muda de longe o canal que é chato!

Que não eram as flores que usavam
os espinhos para protegerem-se,
mas sim estes que usavam-nas para atacar,
descobriu tarde.
No dedo furado uma gota vermelha
dava as caras, mensageira do coração
que viera observar o que se passava - mais um engano.